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Simone Weil


Um dos problemas que afectam as sociedades actuais prende-se com a maneira como os partidos políticos conduzem os assuntos públicos. É notório que existe uma descrença generalizada dos cidadãos relativamente aos partidos políticos, descrença essa que parece agudizar-se a cada ano que passa. Não estamos perante um problema novo. Em 1943, Simone Weil -escritora e filósofa francesa- escreveu um pequeno ensaio intitulado "Nota Sobre a Supressão Geral dos Partidos Políticos". Nesse livro, a autora declara sucintamente algo tão simples e tão violento como isto: os partidos políticos devem ser abolidos, pois não servem o bem. Segundo a autora, a democracia e os seus representantes directos (os partidos políticos) devem ser um meio através do qual se visa o bem. Mas o que é o bem? Para Simone Weil, o bem é constituído por três elementos, nomeadamente a verdade, a justiça e a utilidade pública, dando assim a entender a sua abordagem moral da política. A ênfase que a autora coloca na questão do "bem" destina-se a assinalar que a legitimidade de um sistema político só é assegurada quando esse sistema político  se norteia por princípios éticos. No entender de Weil, as motivações ideológicas dos partidos políticos não têm qualquer ponto de contacto com a ideia do bem, por isso não faz sentido prolongar-lhes a existência. 

 Na opinião da autora, existem três características que todos os partidos políticos partilham: são uma máquina de fabricar paixões colectivas; são uma organização construída de modo a exercer pressão colectiva sobre cada um dos seus elementos constituintes; o objectivo de todo o partido político é o seu próprio crescimento, sem limite. Ora, a condução da vida pública não pode assentar em alicerces passionais porque, diz-nos a autora, só a razão nos pode impelir a seguir o caminho da justiça e da utilidade pública, caminho esse que nos é vedado quando somos guiados pela paixão. Por outro lado, a razão é invariável de homem para homem. Isto é, a razão não permite que formemos concepções divergentes sobre a justiça, dado que o conceito de justiça é, por definição, uno e indivisível. Aqueles que professam ideais racistas ilustram perfeitamente esta ideia. Só é possível ser-se racista caso deixemos que a paixão se apodere do nosso pensamento, visto que se olharmos para o racismo com os olhos da razão torna-se absolutamente impossível concebermos qualquer ideia racista. 

É evidente que se pode criticar Simone Weil por ela não apresentar nenhuma proposta concreta no sentido de substituir os partidos políticos. No entanto, não acredito que essa objecção fragilize este livro. A filosofia é, acima de tudo, uma disciplina científica que nos ensina a olhar para o estabelecido de uma forma inconformada. Mais do que apresentar soluções e respostas, a filosofia apresenta questões. Pode-se achar que isto é pouco, mas é um erro. Por vezes, a "mera" indagação é mais eficaz na transformação da realidade do que a incessante  e frenética procura de respostas.

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