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Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2019

Um interessante caso de estudo

Timothy Dexter Numa carta enviada à namorada, Sigmund Freud escreveu o seguinte: "A única coisa que me faz sofrer é a impossibilidade de te provar o meu amor." Penso muitas vezes nesta frase. O sofrimento de Freud é vivido todos os dias por inúmeras pessoas. Gostaríamos de transmitir aos outros o grau exacto da nossa afeição por eles. É esta uma das nossas utopias privadas. Claro que se trata de um desejo condenado ao fracasso, uma vez que não estamos na posse da prova definitiva que poderia demolir de vez as dúvidas intrínsecas a qualquer relacionamento humano.         Por outro lado, é indiscutível que também precisamos de saber o quanto somos apreciados e amados por aqueles que nos rodeiam. A questão está em saber até onde estamos dispostos a ir para alcançarmos esse objectivo. No início do século XIX, o americano Timothy Dexter, homem de negócios, patologicamente excêntrico,  decidiu testar os sentimentos daqueles que o rodeavam: simulou a próp...

Vista de Delft

  Vista de Delft, Johannes Vermeer, 1660-1661 Para o escritor francês Marcel Proust, Vista de Delft era o mais belo quadro do mundo. Não podemos determinar exactamente se Proust tem ou não razão, dada a natureza profundamente subjectiva de qualquer avaliação estética, no entanto, é muito fácil sermos arrastados para uma conclusão idêntica assim que pousamos o olhar em Vista de Delft .      Consigo, sem grande esforço, demorar-me neste magnífico quadro durante imenso tempo. Quando tal acontece, ou seja, quando consigo olhar para algo durante muito tempo, isso significa que estou a olhar para o belo em estado puro. Como Simone Weil explicou, "o belo é qualquer coisa a que podemos dar atenção." Nesses momentos, o meu olhar vagueia pela totalidade da tela, percorrendo o seus espaços nos sentidos horizontal e vertical, em busca de algo que eu tenho dificuldade em discernir o que possa ser. É a velha história contada por Blaise Pascal: "o coração tem razões qu...

Sinal dos tempos

Cartoon de Avi Steinberg, publicado recentemente na revista The New Yorker

Servidões

Retrato de Herberto Helder, Frederico Penteado Li recentemente uma entrevista feita ao escritor e professor Nuno Bragança, em que, a certa altura, ele dizia isto: o século XX português é o grande século da poesia europeia. É verosímil que esta observação esteja correcta. Basta referir apenas alguns nomes: Camilo Pessanha, Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Teixeira de Pascoaes, Eugénio de Andrade, Ruy Belo, Sophia de Mello Breyner, Mário Cesariny e, claro, Herberto Helder.       Ao longo de mais de meio século, Herberto Helder foi tecendo a sua obra poética, singularíssima no panorama das letras portuguesas. Numa era em que até os mais pequenos se põem em bicos de pés para alcançar a fama - e as vantagens dela provenientes - Herberto Helder recusou sempre a cedência ao estatuto de figura pública. Não dava entrevistas, não aceitava  ser fotografado e recusou os vários prémios que lhe foram concedidos (incluindo o prémio Pessoa). Como acontece tantas ve...