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Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2020

Marine Vacth

Não me é difícil imaginar que se levássemos um papagaio ao cinema para assistir ao filme Jeune et Jolie , de François Ozon, a única coisa que ele talvez soubesse dizer sobre o filme seria repetir incansavelmente "Marine Vacth, Marine Vacth, Marine Vacth..." Não me atreveria a censurar o animal, pois também a mim, que não sou um papagaio (tenho testemunhas que o podem comprovar), me foi impossível resistir ao desejo de dizer e redizer Marine Vacth vezes sem conta.       No filme Jeune et Jolie , a actriz francesa Marine Vacth interpreta o papel de Isabelle, uma jovem de 17 anos que, por razões pouco claras, experimenta entrar no mundo da "alta prostituição". Ao longo do filme não é dada ao espectador uma explicação conclusiva sobre as motivações de Isabelle. Não é o dinheiro que a cativa, muito menos a procura de prazer. A certa altura, a própria afirma que "não sentia quase nada" durante os encontros sexuais em que participou. Para Isabelle,...

Poema dedicado aos esfaimados de popularidade

Pouco antes de morrer, em 2015, Herberto Helder terminou o seu último livro de poesia. Poemas Canhotos , assim foi intitulado o livro. Fica aqui o poema que achei mais interessante: "(entra um jovem sobraçando um maço de poemas cortados em diagonal pelo mito de Rimbaud) poemas cortados em diagonal pelo mito de Rimbaud, um jovem ávido cheio de cotovelos no meio da multidão - afastem-se afastem-se que eu quero entrar no filme, eu quero que me descubram, eu vim a correr de noite até aqui, eu sou o astro de que grandeza primeira, tragam depressa o rapaz das filmagens, eu quero ser o actor do terramoto - afaste-se, senhor, não é a sua vez - não me afasto que a minha vez é sempre, oh dêem qualquer coisa ao rapaz frenético: um relâmpago fotográfico em cheio no rosto, um calmante, um sôco, um bombom recheado maria gloriazinha, vai ser difícil vai ser difícil o rapaz não tem escrúpulos, tem uma fome que vem das...

A transformação do prazer

Au Lapin Agile, Pablo Picasso, 1905 Num livro intitulado A Descrição da Infelicidade , o escritor alemão W.G.Sebald escreveu esta observação curiosa:" [...] o flâneur burguês alegava ter consciência de que as suas aventuras amorosas uma vez por outra o fariam correr riscos de vida e saúde não despiciendos, de modo que, numa espécie de autopunição heróica, o prazer ombreia com a morte."       Para obter o prazer desejado, o flâneur burguês - essa figura emblemática do século XIX - estava disposto a colocar o seu destino ao dispor dos ventos insondáveis da sorte e do azar, tendo total consciência do que daí poderia advir. Este pequeno excerto de Sebald é muitíssimo significativo, pois permite-nos captar as dissemelhanças existentes entre as sociedades antigas e as sociedades actuais no modo como ambas experienciam o prazer. Tornou-se um lugar-comum caracterizar ideologicamente as sociedades actuais rotulando-as de hedonistas . A busca incessante pelo prazer é ...