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Mensagens

2020: Livros

Os dez melhores livros que eu li em 2020: Uma Beleza que nos Pertence, de José Tolentino Mendonça  Assim Nasceu uma Língua, de Fernando Venâncio O Nó de Víboras, de François Mauriac Trump, de Alain Badiou Guerra e Paz, de Lev Tolstói O Sino, de Iris Murdoch O Adversário, de Emmanuel Carrère Autobiografia, de Thomas Bernhard Eu Sou Dinamite! A Vida de Friedrich Nietzsche, de Sue Prideaux Teoria das Cordas, de David Foster Wallace  

2020: Filmes

Os dez melhores filmes que eu vi em 2020: Jovem e Bela, de François Ozon O Filho de Saul, de László Nemes Tempos Modernos, de Charlie Chaplin Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock Western, de Valeska Grisebach O Laço Branco, de Michael Haneke Força Maior, de Ruben Östlund Nightcrawler - Repórter na Noite, de Dan Gilroy Night Moves, de Kelly Reichardt O Rei de Staten Island, de Judd Apatow

Confissões do maior escritor de língua alemã da segunda metade do século XX

Thomas Bernhard Ao longo de quase uma década, entre 1975 e 1982, a "criança terrível" da literatura austríaca - Thomas Bernhard - publicou cinco obras dotadas de um óbvio cunho autobiográfico que, apesar de estarem normalmente reunidas num único volume sob a designação de "Autobiografia", nunca mereceram esse apodo por parte do seu autor. "A Causa" (1975), "A Cave" (1976), "A Respiração" (1978), "O Frio (1981), "Uma Criança" (1982), são livros independentes e autónomos entre si, mas capazes de constituírem um todo coeso, e é por via desse todo que entrevemos a infância e juventude de Thomas Bernhard, pois é exclusivamente desse período da sua vida que o autor nos fala.       É natural que o leitor se interrogue sobre o porquê de Thomas Bernhard ter escolhido escrever apenas sobre a infância e a juventude nos seus estudos autobiográficos. Há uma resposta a essa pergunta e é o próprio Bernhard que no-la oferece: "A cid...

Trump Nunca

A partir de Janeiro, Joe Biden será o novo presidente dos Estados Unidos da América. É de saudar o regresso de um Homo Sapiens Sapiens  à Casa Branca. 

A era da vingança

Alberto Manguel No passado dia 22 de Agosto de 2020, o semanário Expresso publicou um ensaio do professor e escritor Alberto Manguel que ilustra, de forma inteligente, ponderada e sucinta, algumas das inquietações mais prementes da nossa época. Segundo o canadiano, cada época histórica possui um conjunto de tendências específicas que nos ajudam a caracterizá-la, a defini-la relativamente a outras que a precederam. Tal como nos ensinou o célebre historiador britânico Eric Hobsbawm, houve a era das revoluções, houve a era dos impérios, houve a era dos extremos; agora, no novo milénio, o sentimento predominante é o de que vivemos na era da vingança . É esta a tese principal do ensaio de Alberto Manguel.  Como sabemos, a História é um manancial de injustiças e de crueldades inomináveis. Hegel chegou ao ponto de afirmar que "as épocas felizes são páginas em branco no livro da História". Assim é. No entanto, há uma diferença significativa entre as vítimas d...

Vilarinho das Furnas

Nas vésperas do afogamento da aldeia de Vilarinho das Furnas, o cineasta português António Campos delegou a si mesmo a nobre tarefa de capturar um mundo condenado ao desaparecimento, tendo daí resultado a elaboração do documentário Vilarinho das Furnas . Quando António Campos chegou a Vilarinho das Furnas, em 1969, o cutelo já havia sido colocado no pescoço dos habitantes da aldeia, isto é, já todos sabiam que a construção da barragem de Vilarinho das Furnas iria ser realizada. Este facto outorga ao documentário o estatuto de "crónica de uma morte anunciada", pois é efectivamente a designação acertada para descrever o documentário de António Campos. Ao longo de doze meses passados no coração da aldeia, António Campos pôde lançar sobre ela o derradeiro olhar sobre os costumes, crenças e tradições dos seus habitantes, bem como dissecar o peculiar modo de funcionamento do regime agro-pastoril que por lá vigorava.  Situada no sopé da serra Amarela, mas já com o "dorso" ...

Senhor, livrai-nos dos bons samaritanos

"Há pessoas que têm pena de mim por estar a ler. 'Coitado', pensam, 'está a ler porque está sozinho'. Vêm fazer-me companhia, orgulhosos de serem bons samaritanos, salvando-me do triste destino de ler. Mesmo gritando para que desandem dali e me deixem em paz não se comovem - e não arredam pé. Alguém pôs-lhes nas cabeças que os livros só servem para estudar [...]." [Excerto de uma crónica de Miguel Esteves Cardoso]

Force Majeure

Cena do filme Force Majeure Gostamos de afagar a nossa consciência imaginando que também nós adoptaríamos um comportamento heróico e nobre se fôssemos confrontados com uma situação limite, in extremis . Quando as forças elementares e primárias da vida e da morte entram em cena, quantos de nós teríamos o poder de agir segundo as leis do dever e da moral? Poucos, atrevo-me a dizer. Dos fracos não reza a história , afirmou solenemente Camões. De facto, são os fortes que figuram nos manuais de história, não são os fracos. Mas a verdade é que o olhar histórico será sempre incompleto se não se debruçar sobre os fracos. Por muito que nos custe, a realidade não é um bloco monocromático. Quando arriscamos ir mais longe, quando penetramos na obscuridade, é natural que aí encontremos indecências, vilezas e fraquezas inconfessáveis, visto que é também dessa mixórdia que nós somos feitos. Devo estas observações à circunstância de ter assistido recentemente ao filme Force Majeure (2014), do realizad...

Curiosidades etimológicas

Todas as palavras têm uma história. O ramo da Linguística que se dedica ao estudo das palavras chama-se Etimologia. Na língua galega, existe um termo que descreve com bastante expressividade a sensação que nos visita ao ouvirmos algumas histórias referentes à génese de certos vocábulos:  engaiolante . Engaiolante é um adjectivo que designa algo fascinante e sedutor, algo que nos aprisiona (engaiola) num halo de espanto. Vejamos, por exemplo, a origem da palavra galhofa .  O que é que nos vem à cabeça quando se fala em galhofa ? Esqueça, caro leitor, o facto de a pandemia ter suspendido a galhofa por um período temporal indeterminado. O termo galhofa faz-nos pensar automaticamente em espaços ruidosos e alegres, em festas repletas de riso e diversão. De facto, qualquer dicionário confirmará a justeza de tais pensamentos. Galhofa é sinónimo de riso, de alegria, de festa, de brincadeira. Então, de onde provém este termo que nos deixa tão bem dispostos só de ouvi-lo? Por muito ...

Considerações sobre a felicidade

Não há existência que não assente numa extensa série de logros. Alguns deles são-nos inculcados pela família, pela escola, pela religião ou pela comunidade em que estamos inseridos; outros são exclusivamente alimentados por nós mesmos, sem qualquer intervenção externa. Um dos logros mais importantes na estruturação da nossa realidade psíquica (e mesmo na realidade social que nos envolve) é a crença de que a felicidade é tanto mais intensa quanto maior for a sua relação com o esforço.       A teoria popularizada ao longo dos séculos tem sido esta: o sangue, suor e lágrimas do nosso esforço, dedicação ou trabalho - como lhe queiramos chamar - são peças fundamentais que nos permitem conhecer a verdadeira felicidade. Quantas vezes não ouvimos dizer que as "coisas só nos dão satisfação quando são conquistadas com esforço"? Inúmeras, creio eu. O problema é que nada disto é verdade. A minha posição vai no sentido contrário, isto é, o esforço não só não contribui minim...